Onda de palavras.
Foi em um daqueles momentos que te fazem borbulhar a alma, a inspiração pairou no segundo em que as forças caíram ao chão. Pareciam lençóis, lençóis que por tão pouco longo tempo me cobriram. O sangue corria forte pelas veias, mas se de cobaia eu participasse de um teste, naquele momento, posso garantir que meu diagnóstico seria de morto. Sem pulso, sem ar, sem voz. Encabulei-me por horas em um quarto, uma força pairou sobre meus ombros e eu sentia o peso da consciência inteira de uma humanidade. A dor me consumia inteiramente, eu queria estraçalhar cada linha de vida que tão pouco restava em mim. E a partir desse englobamento de rancor e dessa ternura para com o sofrimento surgiram palavras nunca vistas, qualquer caneta que me falhasse a escrita levaria um toco para bem longe. Meu corpo afundava em um oceano de lágrimas, cada pequena palavra, sílaba e artigo recebiam um olhar faminto. Rabisquei meus próprios lábios até que vazasse do mais puro sangue, um sangue quente que ia contra a corrente fria que me cobria. Em meio a tantos novos condimentos, meus olhos estavam fechados, e como ultima fresta de suspiro, ingeria cada palavra daquele mar. Meus pulmões se enchiam de uma água salgada, minha face chegava cada vez mais perto do fundo rochoso daquele cenário e então prescrevi, eu havia sido atacada e derrubada pela onda de palavras mais grosseiras e tenebrosas que eu já havia visto. E foi assim que começou, assim que começou a carreira de tormento em que qualquer inibição e sentimento... Transformar-se-iam em arte.
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